Segundo Francisco
Victer, liderança empresarial da cadeia agroindustrial da pecuária brasileira,
a precariedade das estradas, a péssima qualidade nos serviços de energia
elétrica e telefonia, bem como a inexistência de internet de alta velocidade
inviabilizam as empresas locais e afastam novos investimentos da região.
Nesta primeira, de uma
série de entrevistas sobre a infraestrutura da região, Francisco Victer aborda
a questão da energia elétrica.
REPÓRTER: Como o setor empresarial avalia a infraestrutura do
Sul do Pará?
FRANCISCO VICTER: Apesar do Sul do Pará ser dotado de
inestimáveis recursos naturais, clima e solos propícios e contar com uma classe
empresarial dinâmica e mão de obra engajada ao processo produtivo, os negócios
da agropecuária, agroindústria, mineração, comércio e serviços vem perdendo
competitividade pela precariedade da infraestrutura local.
No caso da energia elétrica, as deficiências ocorrem tanto
na quantidade, quanto na qualidade do fornecimento e nos altos preços que são
cobrados.
REPÓRTER: De que forma isso afeta a economia
da região?
FRANCISCO VICTER: Não há disponibilidade de energia
elétrica suficiente para as empresas já instaladas e qualquer outro novo
empreendimento tem que aguardar ou arcar com vultosos investimentos em expansão
de redes e subestações de rebaixamento para ser atendido.
É o caso do Frigorífico NPL, situado na localidade
denominada Casa de Tábua, Distrito de Sawanópolis, no Município de Santa Maria
das Barreiras. Trata-se do maior empreendimento industrial do município e
custou aos seus investidores R$65 milhões, tudo com recursos próprios.
O negócio que poderia estar gerando 900 empregos diretos e
outros 3.500 indiretos, além de abrir mais um mercado para pecuaristas da
região, com a compra diária de 1.300 cabeças de bovinos, está concluído e fechado,
há mais de 2 anos, por falta de energia elétrica suficiente e estável.
Ao invés de produzir inúmeros benefícios sociais e
econômicos para uma região carente, o empreendimento acumula prejuízos aos
proprietários, à sociedade local e a todo o Estado do Pará.
Outro caso que bem ilustra esta situação é o de Água Azul do
Norte. O Município não dispõe de subestação própria e depende da energia
elétrica com tensão já rebaixada vinda de Xinguara por meio de uma linha de 80 Km de distância, sem
contar os prolongamentos para os distritos e vilas. Dá para imaginar que, após
percorrer toda essa extensão, a energia que chega não seja suficiente para
atender sequer o consumo residencial.
Na prática é isso mesmo que acontece: os cidadãos de Água
Azul do Norte sofrem constantemente com a instabilidade e com as suspensões no
fornecimento de energia elétrica.
Mais grave ainda é a situação do Frigorífico Frigol, maior
indústria do Município e geradora de 500 empregos diretos, a empresa, por
contrato, deveria receber energia na tensão de 380 volts, mas não é isso que
ocorre. Os patamares recebidos na unidade giram em torno de 340 volts,
inviabilizando o funcionamento dos mais de 800 motores elétricos que compõem
sua linha industrial. O desgaste com a queima de motores é muito grande.
Além dos “afundamentos” de tensão que se repetem, em média,
mais de 60 vezes por dia, obrigando o sistema de proteção sempre desligar os
equipamentos quando a tensão cai a menos de 332 volts. As interrupções chegam a
ocorrer mais de 15 vezes por mês, com uma duração de pelo menos 4 horas a cada
evento, isso quando não acontece um dano físico na precária rede que demande a
troca de um poste, por exemplo. Aí a demora já chegou a mais de 15 horas, ou
seja, perde-se todo o dia de trabalho.
REPÓRTER: Então esses problemas afetam mais
as grandes empresas?
FRANCISCO VICTER: Absolutamente não. Infelizmente o
problema é generalizado. Atinge mais ou menos intensamente todos os municípios
da região, nas cidades e nas zonas rurais.
Durante todos os dias é fácil perceber os surtos que fazem
as lâmpadas piscarem e os aparelhos elétricos, eletrônicos e os
eletrodomésticos em geral se desligarem ou quando computadores forem mantidos
ligados por meio de “no-breaks”.
Em todo o Sul do Pará, não existe um cidadão que não tenha
sofrido sequer um prejuízo com a perda de negócios, equipamentos e produtos
perecíveis, além dos atrasos pelo péssimo serviço de fornecimento de energia
elétrica, seja na sua residência, escola, comércio, indústria e até mesmo nas
vias públicas.
REPÓRTER: E qual seria a solução apontada
pelo setor empresarial?
FRANCISCO VICTER: Não há outra solução, senão investimentos
maciços em estruturas de transmissão, rebaixamento e distribuição de energia.
Isso compete ao concessionário, no caso a CELPA em articulação com os governos
Federal e Estadual.
Lamentavelmente o antigo concessionário, o Grupo Rede, não
suportou a gestão do sistema elétrico do Pará e transferiu o controle para o
Grupo Equatorial que está completando 5 meses de trabalho. Nesse curto período
já conversamos várias vezes com a nova Diretoria, alertando para a necessidade
de urgentes investimentos na região. Segundo eles a nova Subestação de
Xinguara, em fase de testes e prevista para começar operar na segunda quinzena
do próximo mês, irá contribuir para reduzir uma boa parte dos problemas.
Mesmo assim fica sempre para nós uma grande interrogação:
Como que um serviço tão caro como a energia elétrica, sem concorrentes e com
demanda cada vez mais crescente pode ser tão restrito?
Para mim é injustificável que o Pará que tanto contribui com
a geração de energia hidrelétrica para o Brasil não disponha de energia para o
seu próprio desenvolvimento.
Fonte: UNIEC
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