sexta-feira, 26 de abril de 2013

INFRAESTRUTURA PRECÁRIA ESTÁ TRAVANDO O DESENVOLVIMENTO DO SUL DO PARÁ




Segundo Francisco Victer, liderança empresarial da cadeia agroindustrial da pecuária brasileira, a precariedade das estradas, a péssima qualidade nos serviços de energia elétrica e telefonia, bem como a inexistência de internet de alta velocidade inviabilizam as empresas locais e afastam novos investimentos da região.

Nesta primeira, de uma série de entrevistas sobre a infraestrutura da região, Francisco Victer aborda a questão da energia elétrica.

REPÓRTER: Como o setor empresarial avalia a infraestrutura do Sul do Pará?

FRANCISCO VICTER: Apesar do Sul do Pará ser dotado de inestimáveis recursos naturais, clima e solos propícios e contar com uma classe empresarial dinâmica e mão de obra engajada ao processo produtivo, os negócios da agropecuária, agroindústria, mineração, comércio e serviços vem perdendo competitividade pela precariedade da infraestrutura local.

No caso da energia elétrica, as deficiências ocorrem tanto na quantidade, quanto na qualidade do fornecimento e nos altos preços que são cobrados.

REPÓRTER: De que forma isso afeta a economia da região?

FRANCISCO VICTER: Não há disponibilidade de energia elétrica suficiente para as empresas já instaladas e qualquer outro novo empreendimento tem que aguardar ou arcar com vultosos investimentos em expansão de redes e subestações de rebaixamento para ser atendido.

É o caso do Frigorífico NPL, situado na localidade denominada Casa de Tábua, Distrito de Sawanópolis, no Município de Santa Maria das Barreiras. Trata-se do maior empreendimento industrial do município e custou aos seus investidores R$65 milhões, tudo com recursos próprios.

O negócio que poderia estar gerando 900 empregos diretos e outros 3.500 indiretos, além de abrir mais um mercado para pecuaristas da região, com a compra diária de 1.300 cabeças de bovinos, está concluído e fechado, há mais de 2 anos, por falta de energia elétrica suficiente e estável.

Ao invés de produzir inúmeros benefícios sociais e econômicos para uma região carente, o empreendimento acumula prejuízos aos proprietários, à sociedade local e a todo o Estado do Pará.

Outro caso que bem ilustra esta situação é o de Água Azul do Norte. O Município não dispõe de subestação própria e depende da energia elétrica com tensão já rebaixada vinda de Xinguara por meio de uma linha de 80 Km de distância, sem contar os prolongamentos para os distritos e vilas. Dá para imaginar que, após percorrer toda essa extensão, a energia que chega não seja suficiente para atender sequer o consumo residencial.

Na prática é isso mesmo que acontece: os cidadãos de Água Azul do Norte sofrem constantemente com a instabilidade e com as suspensões no fornecimento de energia elétrica.

Mais grave ainda é a situação do Frigorífico Frigol, maior indústria do Município e geradora de 500 empregos diretos, a empresa, por contrato, deveria receber energia na tensão de 380 volts, mas não é isso que ocorre. Os patamares recebidos na unidade giram em torno de 340 volts, inviabilizando o funcionamento dos mais de 800 motores elétricos que compõem sua linha industrial. O desgaste com a queima de motores é muito grande.

Além dos “afundamentos” de tensão que se repetem, em média, mais de 60 vezes por dia, obrigando o sistema de proteção sempre desligar os equipamentos quando a tensão cai a menos de 332 volts. As interrupções chegam a ocorrer mais de 15 vezes por mês, com uma duração de pelo menos 4 horas a cada evento, isso quando não acontece um dano físico na precária rede que demande a troca de um poste, por exemplo. Aí a demora já chegou a mais de 15 horas, ou seja, perde-se todo o dia de trabalho.

REPÓRTER: Então esses problemas afetam mais as grandes empresas?

FRANCISCO VICTER: Absolutamente não. Infelizmente o problema é generalizado. Atinge mais ou menos intensamente todos os municípios da região, nas cidades e nas zonas rurais.

Durante todos os dias é fácil perceber os surtos que fazem as lâmpadas piscarem e os aparelhos elétricos, eletrônicos e os eletrodomésticos em geral se desligarem ou quando computadores forem mantidos ligados por meio de “no-breaks”.
  
Em todo o Sul do Pará, não existe um cidadão que não tenha sofrido sequer um prejuízo com a perda de negócios, equipamentos e produtos perecíveis, além dos atrasos pelo péssimo serviço de fornecimento de energia elétrica, seja na sua residência, escola, comércio, indústria e até mesmo nas vias públicas.

REPÓRTER: E qual seria a solução apontada pelo setor empresarial?

FRANCISCO VICTER: Não há outra solução, senão investimentos maciços em estruturas de transmissão, rebaixamento e distribuição de energia. Isso compete ao concessionário, no caso a CELPA em articulação com os governos Federal e Estadual.

Lamentavelmente o antigo concessionário, o Grupo Rede, não suportou a gestão do sistema elétrico do Pará e transferiu o controle para o Grupo Equatorial que está completando 5 meses de trabalho. Nesse curto período já conversamos várias vezes com a nova Diretoria, alertando para a necessidade de urgentes investimentos na região. Segundo eles a nova Subestação de Xinguara, em fase de testes e prevista para começar operar na segunda quinzena do próximo mês, irá contribuir para reduzir uma boa parte dos problemas.

Mesmo assim fica sempre para nós uma grande interrogação: Como que um serviço tão caro como a energia elétrica, sem concorrentes e com demanda cada vez mais crescente pode ser tão restrito?

Para mim é injustificável que o Pará que tanto contribui com a geração de energia hidrelétrica para o Brasil não disponha de energia para o seu próprio desenvolvimento.


Fonte: UNIEC

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